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Batayporã pode sumir do mapa? Entenda a situação da cidade onde 90% da população vive em áreas de risco

  • Foto do escritor: Fabio Sanches
    Fabio Sanches
  • 21 de nov.
  • 5 min de leitura
Batayporã. (Divulgação, GOVMS)
Batayporã. (Divulgação, GOVMS)

Levantamento de 2024 aponta que 10 mil dos 10,7 mil moradores vivem em áreas de risco, mas prefeitura diz que cenário mudou


O avanço de eventos climáticos extremos no Brasil acendeu um alerta sobre a vulnerabilidade dos pequenos municípios espalhados pelo país. Em Mato Grosso do Sul, a cidade de Batayporã, que abriga pouco mais de 10 mil habitantes, está entre os casos mais críticos do Estado. É o que aponta a nota técnica “Atualização dos critérios e indicadores para a identificação dos municípios mais suscetíveis à ocorrência de deslizamentos, enxurradas e inundações” do Governo Federal, publicada em 2024.


Conforme o levantamento, 10 mil dos 10.712 moradores vivem em áreas suscetíveis a enxurradas e alagamentos. Na prática, um evento climático severo tem potencial para afetar até 93,35% da cidade. Apesar disso, a prefeitura afirma que o cenário atual é outro.


A situação ganhou maior relevância após o tornado que devastou a cidade de Rio Bonito do Iguaçu (PR), no início de novembro. O desastre deixou seis mortos, centenas de feridos e 90% da área urbana destruída. Embora não haja previsão de tornados em Mato Grosso do Sul, o cenário atual reforça a urgência de prevenção e adaptação em regiões reconhecidas como vulneráveis.


Por que Batayporã está tão exposta?

O relatório federal inclui Batayporã entre os 29 municípios sul-mato-grossenses suscetíveis a enchentes e enxurradas. Isso porque a ocupação urbana no município surgiu historicamente em áreas próximas a cursos d’água, especialmente ao redor da Lagoa do Sapo, zona que há mais de 40 anos registra alagamentos recorrentes.


A cidade também está dentro da área de influência da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta (Cesp/Auren Energia), no Rio Paraná, o que exige monitoramento permanente e integração aos PAE (Planos de Ação de Emergência) da usina.


Prefeitura confirma risco, mas diz que obra reduziu 90% do problema

Questionado sobre o risco de um potencial desastre, o prefeito de Batayporã, Germino Roz (PSDB), esclarece que a Prefeitura reconhece a classificação federal, mas afirma que o cenário mudou significativamente após a obra de drenagem da Lagoa do Sapo, em execução desde 2024. “A obra é considerada a maior intervenção de infraestrutura hídrica da história da cidade”.


Coordenador da Defesa Civil Municipal, sargento Gilberto Batista dos Santos, explica que cerca de 90% do problema histórico já está resolvido. A comprovação, segundo ele, veio na última segunda-feira (17), quando a cidade registrou quase 100 mm de chuva em poucas horas, volume que antes provocaria alagamentos imediatos.


“Em anos anteriores, naturalmente resultaria em transbordamento da Lagoa do Sapo e alagamentos no entorno. Porém, não houve qualquer alagamento, evidenciando que a infraestrutura implantada já está produzindo resultados concretos”, explica.

Diante disso, a gestão afirma que a projeção atual é que não haverá necessidade de reassentamento de famílias, pois a área deixou de apresentar o comportamento crítico que motivava preocupação no passado.


Histórico de alagamentos

A Lagoa do Sapo é conhecida por ser um local alvo de alagamentos e enchentes há pelo menos 40 anos.


Em 2022, a cidade registrou 120 milímetros de chuva e pelo menos 50 casas foram atingidas pela água da Lagoa do Sapo. No entanto, a prefeitura explica que o local passou por diversas intervenções ao longo do ano.


Linha do tempo

  • 2021: início da gestão, limpeza e ampliação de valetas; escavação total da lagoa com a retirada de lama para aumento da profundidade.

  • 2022: transbordamento e decreto de emergência; prefeitura se comprometeu a ressarcir as famílias prejudicadas, comprando móveis e eletrodomésticos. Licitação para projeto executivo, empresa Schettini Engenharia Ltda. venceu a licitação, com uma proposta de R$ 666.633,52, utilizando recursos próprios da prefeitura.

  • 2023: articulação política para recursos; lançamento de licitação de R$ 20,7 milhões pelo Governo do Estado.

  • 2024: homologação da obra (empresa KM Engenharia); início da construção da lagoa de amortização de 28 mil m². Com isso, a lagoa funcionará como um reservatório temporário para gerenciar e controlar a vazão de águas pluviais.

  • 2025: obra em fase final, com inauguração prevista para dezembro.


Os detalhes técnicos da obra incluem: 2,1 km de galerias pluviais com tubulação de 1,50 m de diâmetro; profundidade entre 2,50 m e 5,85 m; 34 poços de visita; lagoa de amortização com 46 mil m³ de capacidade e intervenção nas ruas Luiz Antonio da Silva, José Adelino da Rocha, Júlio Saldanha Rosa e Av. Antonia Spinosa Mustafá.


Além disso, a bacia de amortecimento funciona como um reservatório temporário que retém grandes volumes de chuva e reduz a pressão sobre a Lagoa do Sapo.


Planos de prevenção e resposta

O município afirma seguir protocolos constantes de prevenção, incluindo:

  • Monitoramento das áreas de risco;

  • Acionamento emergencial em caso de previsão de enxurradas;

  • Orientações preventivas às famílias vulneráveis;

  • Integração às equipes estaduais, federais e à Cesp.


A cidade também participa dos simulados de evacuação previstos no PAE da UHE Porto Primavera. Em 2023, um exercício conjunto com Defesa Civil e Cesp obteve adesão total das comunidades na área de influência da usina.


Como a população tem sido orientada?

Em situações de risco, moradores das áreas vulneráveis recebem visitas, vistorias e avisos meteorológicos. Nos casos de emergência, a prefeitura afirma que oferece suporte imediato — inclusive reposição de móveis e eletrodomésticos, como ocorreu em enchentes anteriores à obra.


O trabalho inclui:
  • Visitas, vistorias e orientações antes e durante o período de chuvas;

  • Monitoramento meteorológico e avisos em caso de risco iminente;

  • Ações de retirada voluntária quando necessário;

  • Suporte imediato, inclusive com reposição de móveis e bens essenciais.


“Com o avanço da obra da Lagoa do Sapo, a Defesa Civil avalia que não há necessidade de reassentamento, pois a infraestrutura praticamente eliminou o risco que gerava preocupação histórica”, diz a prefeitura.

Em MS, 25 mil pessoas vivem em áreas de risco

Em todo Mato Grosso do Sul, 29 municípios estão em áreas classificadas como suscetíveis a enxurradas, inundações e deslizamentos, cenário que tem se agravado nos últimos anos devido às mudanças climáticas. A nota técnica federal mostra que 25.092 pessoas vivem em áreas com risco hidrológico ou geológico no Estado.


Além de Batayporã, outros municípios apresentam populações expressivas em áreas de risco: Aquidauana (2.650 pessoas), Coxim (1.740), Ponta Porã (1.710), Miranda (1.606), Corumbá (1.429) e Três Lagoas (1.478). Em Campo Grande, o levantamento aponta que 1.232 moradores vivem em locais suscetíveis a extremos climáticos.


Consequência das mudanças climáticas

Para o ambientalista Alcides Faria, diretor da ONG Ecoa, os efeitos das mudanças climáticas já são evidentes em Mato Grosso do Sul. Ele afirma que não só Batayporã, mas praticamente todo o território do Estado está vulnerável. Isso porque houve uma redução da vegetação nativa do Cerrado e do Pantanal ao longo das últimas décadas.


“Com a retirada da vegetação, as águas escoam mais rapidamente durante as chuvas, sem infiltrar no solo. Isso arrasta sedimentos e pode causar cheias repentinas. O Estado já vive eventos extremos com mais frequência, como as secas severas no Pantanal em 2020 e 2024”, destacou.

A variação climática global também altera a intensidade de fenômenos como El Niño e La Niña, tornando as chuvas mais irregulares. Conforme Alcides, pesquisas indicam que períodos de transição entre esses dois fenômenos podem reduzir drasticamente as chuvas na bacia do Rio Paraguai e afetar diretamente o Pantanal.


Ainda temos tempo?

Para reduzir os impactos dos extremos climáticos, Alcides defende ações estruturadas, com fortalecimento das Defesas Civis municipais e planejamento urbano adaptado. “Eu começaria pelas cidades. Arborização, drenagem adequada, cuidado com áreas de encosta e fundos de vale. No último temporal em Campo Grande, mais de 80 árvores caíram”, comentou.


Além disso, especialistas apontam que eventos climáticos extremos tendem a se tornar mais frequentes e intensos no Estado. Por isso, o ambientalista reforça que o desafio para Mato Grosso do Sul é avançar na prevenção, adaptação urbana e recuperação de áreas degradadas, antes que novos desastres se repitam.


“Precisamos de planos específicos que contenham como ponto de partida a formação de um sistema de defesa civil forte, município a município, de acordo com características particulares de cada um deles”, defendeu.

Fonte: Midiamax

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